O lugar-comum de que nas redes sociais só tem pessoas felizes, populares e bonitas continua transbordando por aí. “Maior furada!”, um conhecido dizia. “Mete o pé!”, dizia outro mais bem-humorado. E lá seguia este último postando e curtindo no Instagram. Ah, tá, Instagram pode, porque é ‘cool’ para os ‘in’?
Besteira. No meu círculo tem lamentação, barraco e dor de cotovelo. Também. Outro dia mesmo desfiz amizade com uma moça que se excedeu dentro dos meus padrões de loucura. A pobre coitada metralhava a ex-mulher de um amigo de tal forma, execrava quem dizia isso ou aquilo, amargava em sua vida pessoal com seu mural escancarado… Caiu no meu limbo virtual. E foi a primeira vez que tive tal atitude.
Tudo que acontece na vida real também acontece na virtual. E é possível controlar a privacidade nas duas modalidades de interação. E escorregar do mesmo modo, como acontece no dia a dia. Hoje em dia quem fala das mazelas das redes sociais corre o risco de expressar preconceito ou pouco jogo de cintura de não querer fazer amizade virtual com alguns Fulanos e Beltranas. Como na vida real. Só que ela nos faz pensar.
Chamo atenção pro fato de certa parte dizer que só existem pessoas fantásticas por estarem expondo a realidade nua e crua de não engolir a satisfação alheia. Eu custei a aceitar que o recalque é mais comum do que se pensa e vem carregado de pessimismo, inveja, ciúme ou despeito. Enfim, de toda sorte de sentimentos complexos que envolvem desgosto, melancolia, insegurança ou medo.
Sentimentos nada nobres que acometem os seres humanos e que muitas vezes os deixam em condição miserável. Uns conseguem lidar com eles brincando, outros já sofrem desesperadamente ou inconscientemente com esses ataques de pensamentos. Quem vive sua miséria particular não aguenta lidar com a coragem, otimismo ou flexibilidade alheias.
Ver o outro como um espelho conforta. É um alívio ver quem está próximo na condição de miserável. Há não muito tempo atrás uma amiga distante me surpreendeu durante uma sessão de terapia de mesa de bar. Ao invés de alegrar-se com minha volta por cima após [mais] um relacionamento falido, sugeriu-me ajuda profissional, pois minha autoestima estava no topo do Burj Khalifa.
Encerrei a noite de queixo caído, a sugestão virou bordão e fiquei pensando que antes de bater as sapatilhas deveria fazer viagem pra Dubai.